home alone
Eu gosto de ficar sozinho em casa porque assim eu falo com o espelho e
finjo que ele responde. Eu mostro pra ele o meu pneu e faço de conta que
gordura mal localizada é o verdadeiro padrão globo de qualidade. E finjo que
sou foda e feliz. Depois eu limpo todos os interruptores pra todo mundo ficar
se perguntando por que eles nunca ficam sujos. E tem as paredes. Há quem diga
que fala com as paredes. Eu não falo com as paredes. Eu falo com felicidades
imaginárias, bordadas com fios dourados, e finjo que elas respondem e me abrem
sorrisos com dentes coloridos. Daí eu penso que sou louco. Eu finjo que sou
louco. Eu sinto vontade de ser louco porque gente louca não precisa se
preocupar em tentar consumir menos e se melhorar mais. Eu acho que gente louca
é feliz. E gente louca canta. Então eu finjo que sei cantar. E canto. Eu canto
alto no inglês que eu inventei porque é melhor, mais fácil e mais bonito que o
inglês de verdade. Eu gosto de ficar sozinho em casa porque talvez essa seja a
única hora em que eu digo oi pra mim mesmo e gosto do meu eu – que só
existe quando estou sozinho em casa.
– Oi, eu não sou
alcoólatra.
Blog: desejos e bocejos
Tem vezes que faço exatamente isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário