domingo, 5 de agosto de 2012

Vi num blog


home alone
Eu gosto de ficar sozinho em casa porque assim eu falo com o espelho e finjo que ele responde. Eu mostro pra ele o meu pneu e faço de conta que gordura mal localizada é o verdadeiro padrão globo de qualidade. E finjo que sou foda e feliz. Depois eu limpo todos os interruptores pra todo mundo ficar se perguntando por que eles nunca ficam sujos. E tem as paredes. Há quem diga que fala com as paredes. Eu não falo com as paredes. Eu falo com felicidades imaginárias, bordadas com fios dourados, e finjo que elas respondem e me abrem sorrisos com dentes coloridos. Daí eu penso que sou louco. Eu finjo que sou louco. Eu sinto vontade de ser louco porque gente louca não precisa se preocupar em tentar consumir menos e se melhorar mais. Eu acho que gente louca é feliz. E gente louca canta. Então eu finjo que sei cantar. E canto. Eu canto alto no inglês que eu inventei porque é melhor, mais fácil e mais bonito que o inglês de verdade. Eu gosto de ficar sozinho em casa porque talvez essa seja a única hora em que eu digo oi pra mim mesmo e gosto do meu eu – que só existe quando estou sozinho em casa.
– Oi, eu não sou alcoólatra.
Blog: desejos e bocejos


Tem vezes que faço exatamente isso.

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